A mudança nas regras da poupança, que entra em vigor nesta sexta-feira, reduziu
a rentabilidade da caderneta para os novos depósitos quando a Selic estiver
igual ou inferior a 8,5%. Mesmo com uma leve desvantagem da poupança em relação
às demais aplicações financeiras pós-fixadas, fundos DI de altas taxas de
administração e CDBs que remunerem abaixo de 100% do CDI não terão vez enquanto
o país rumar para a era do juro baixo.
De acordo com simulação do professor Samy Dana, da FGV-SP, para
patamares de juros mais factíveis atualmente, como 8,0% ou 7,0% ao ano, a
remuneração da poupança mantém ligeira desvantagem em relação às demais aplicações
de renda fixa pós-fixada. Os fundos DI mais caros e os CDBs que remuneram
abaixo de 100% do CDI, porém, já são mais desvantajosos que a poupança mesmo
nesses cenários.
“Isso vai forçar para baixo as taxas de administração dos fundos DI, que
terão de permanecer abaixo de 1%”, diz Gustav Gorski, sócio e economista-chefe
da gestora Quantitas. Aliás, essa era uma das intenções colaterais do governo
com a mudança nas regras da poupança. Para o professor Samy Dana, os fundos de
investimento não são sequer aconselháveis. “O gestor vai comprar títulos
públicos, o que o investidor pode fazer por conta própria via Tesouro Direto, e
ainda vai cobrar uma taxa de administração por isso”, diz Dana.
No lado dos CDBs, estão condenados os papéis que pagam menos de 100% do
CDI, que são as aplicações de curto prazo tradicionalmente oferecidas pelos
grandes bancos ao pequeno investidor. “Os bancos vão ter que dar opções mais
rentáveis e interessantes para atrair os poupadores. Não faz sentido o
investidor receber menos de 100% do CDI num CDB quando um título público
pós-fixado, que é muito mais seguro, remunera 100% da Selic”, observa o
professor da FGV-SP. Atualmente, apenas CDBs de instituições menores oferecem
ao menos 100% do CDI para prazos de até um ano e com liquidez diária.
A partir de uma Selic de 6,0%, a coisa já começa a ficar mais vantajosa
para o lado da poupança, que chega a ganhar até do Tesouro Direto em alguns
cenários, principalmente no curto prazo (até um ano). A simulação abaixo
considera as rentabilidades líquidas de IR acumuladas para uma única aplicação
de 1.000 reais em 12 meses, a taxas Selic que variam de 8,0% a 4,0%. Num
cenário de inflação de 5,0% ao ano, semelhante ao patamar atual, uma Selic de
7,0% levaria ao juro real de 2,0%, que é a meta do governo Dilma para o fim de
2014. Em azul o que ganha da poupança; em vermelho o que perde.
Selic
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Poupança (70% da Selic + TR*)
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CDB 90% do CDI
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CDB 100% do CDI
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Tesouro Direto (LFT)**
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Fundo DI com taxa de 1,0% ao ano
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Fundo DI com taxa de 0,5% ao ano
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Fundo DI com taxa de 0,4% ao ano
|
8,0%
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5,79%
|
5,74%
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6,40%
|
6,06%
|
5,60%
|
6,00%
|
6,08%
|
7,0%
|
5,11%
|
5,02%
|
5,60%
|
5,26%
|
4,80%
|
5,20%
|
5,28%
|
6,0%
|
4,42%
|
4,31%
|
4,80%
|
4,47%
|
4,00%
|
4,40%
|
4,48%
|
5,0%
|
3,72%
|
3,59%
|
4,00%
|
3,67%
|
3,20%
|
3,60%
|
3,68%
|
(*) Considerando TR média de 0,02% ao mês, que
representa uma redução em relação ao patamar atual.
(**) Considerando uma
corretora que não cobre taxa de administração, mas apenas as taxas obrigatórias
de custódia e negociação.
Note que, nos dois primeiros cenários, a poupança só ganha dos CDBs que
remuneram abaixo de 100% do CDI e dos fundos DI com taxa de administração de
1,0% ao ano. Com uma Selic de 6,0%, a poupança chega a ganhar dos fundos DI de
0,5% de taxa de administração, já considerada baixa hoje em dia, e bem menos acessível
ao pequeno investidor. Com uma Selic de 5,0%, a poupança já ganha até dos
títulos públicos pós-fixados. “Em patamares de juros realmente baixos, pode ser
que comece a haver uma migração de recursos maciça para a poupança. E aí talvez
seja necessária uma nova mudança”, diz Gustav Gorski, da Quantitas.
Ainda assim, vale considerar também as questões práticas: contas
poupanças não são tarifadas, e aplicar na poupança é muito mais fácil do que em
qualquer outro investimento. Para ganhar uma remuneração apenas levemente
maior, em outra aplicação que está praticamente empatada em rentabilidade,
talvez migrar para um fundo ou CDB não valha muito a pena para o pequeno
investidor. Para aplicações de até um ano, portanto, ficar na caderneta será
uma saída mais fácil e sem grande perda de rendimento.
Como será a partir desta sexta
Para os depósitos feitos a partir desta sexta-feira, ainda não será
possível sentir diferença na remuneração. Isso porque a Selic ainda está em
9,0% ao ano, acima, portanto, do patamar em que a remuneração da poupança é
indexada à Selic. Daqui para frente, será sempre assim: os novos depósitos
serão remunerados a 6,0% ao ano mais TR sempre que os juros estiverem acima de
8,5% ao ano; e passam a remunerar 70% da Selic mais TR sempre que forem iguais
ou inferiores a 8,5% ao ano.
Para os depósitos feitos até esta quinta-feira, ainda vale a regra
antiga para qualquer cenário. Isso significa que, quem tem “dinheiro antigo” na
poupança vai se beneficiar muito quando os juros ficarem abaixo de 8,5%, desde
que esse dinheiro permaneça aplicado na caderneta. Imagine uma Selic de 6,0% ao
ano, talvez num futuro ainda distante. Ganhar 6,0% ao ano mais TR livre de IR
não será nada mau.
“Para o investidor, acabou a moleza dos juros altos. Afinal, juros altos
são ruins para devedores, mas muito bons para poupadores. Não haverá mais
rentabilidade alta sem algum risco, ainda que moderado. E a tendência é que a
rentabilidade se torne historicamente menor”, diz Gustav Gorski,
economista-chefe da gestora Quantitas.
Fonte: www.exame.com.br